domingo, 20 de junho de 2010

Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Esfregando sua pele de ouro marrom do seu corpo contra o meu 
Me falou que o mal é bom e o bem cruel 
Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu
Ela me conta, sem certeza, tudo que viveu
Que gostava de política em mil novecentos e sessenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancing Days
Ela me conta que era atriz e trabalhou no "Hair"
Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor 
E espalhado muito prazer e muita dor
Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que um leão
As garras da felina me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina que ela disse não
E eu corri para o violão, num lamento, e a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento


Caetano Veloso

domingo, 4 de abril de 2010

versos de Aguinaldo Benjamim




"hoje vi em seu rosto
desconhecido feroz e fragil
vi a alma do mundo imundo em vertices
vi a candura e o olhar sísmico do chapéu dobrado
de um rosa terno e intenso
o vento parado tímido sem alento
misterioso em si em simples recomeço
pairando sobre os livros de madre perola
seguindo rumo ao sul e ao norte
tramando vida nova
deitando sobre a agua que nao se ve
luz em todo instante
luz arrumado na estante
luz,
eu que cego
vejo em voce"

terça-feira, 23 de março de 2010

Questão de tempo.

Por andar saudosa do meu olhar
Me pego em pranto
Me procuro em fotos,
Sorrisos que vão amarelando
Junto com as lembranças mais bonitas, coloridas
De um verão que não tem tempo

Os cílios curvados, parecem buscar o horizonte
Meu olhar vai longe...
Vai, só vai...
Querendo buscar a felicidade em outras datas
Outros lugares, outros copos, outros corpos

Voa longe, querido, saudoso, solitário

Assim continua indo...
Tavez, volte um dia, sei que volta
É no que gosto de acreditar.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Em cada suspiro
Você, a me incendiar
Seu cheiro me subindo à nuca
Minha boa a roçar
Meu cabelo na tua coxa
Suas mãos a me deixar
Louca, sinto o gosto
Você a gozar.

madrugada do dia vinte e três

Quase dormindo, querendo sonhar
O corpo inquieto, ardendo
Me lembra de caminhos percorridos
E de quem percorreu meu corpo.

Peito cheio, coração pesado
Ah, que saudade daqueles olhos rasgados
Que pareciam rasgar-me a roupa
Devorando-me com todo o respeito
Que um sedento bebe na fonte limpa

Eu que virgem, entregava-me
Como um cordeiro a um lobo
Deixava suas mãos descobrirem meu corpo
Enquanto me ajudavam a descobrir o prazer

Os beijos que, gentilmente
Faziam-me cócegas e punham-me a delirar
Traçava rumo ao Oriente
E de volta ao Ocidente

Eu que virgem
Gemia...

Sob o peso
E no calor dos braços
Daquele que partiu meu coração
Antes que eu pudesse ser sua.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Gosto de Espelho D'água


Como água turbulenta que não se modela
Como água que gosto
Como água que reflete meu gosto
Como água que gosto do gosto
Gosto de espelho d'água.


domingo, 20 de setembro de 2009

À Margem do Fluxo

22 anos do acidente com o césio-137 em Goiânia, maior acidente radiológico em área urbana do planeta, o Ministério Público reconhece apenas 628 vítimas contaminadas diretamente, mas a Associação de Vítimas contaminadas do Césio-137 calcula que esse número seja superior a 6 mil pessoas que foram atingidas pela radiação.




À margem do fluxo

Atirada sobre caos e massa que não se vê
Era como se ela conseguisse quase ser alguém, coisa
Deitada, mergulhada em água acida lagrimas tão visíveis quanto a dor
Metamorfoseada naquilo que me fizeram
Antes que viva, antes que a desintegrem
Inicia-se a sentença,
Do colírio o colorido
Desse circo, sua masmorra
De todo o resto em que lida,
É todo o resto que lhe deram.

Era feliz, pensava
Vê-se agora na realidade do que antes alienava
Pressuposto para a nostalgia
Os flocos verdes, brilhantes, radiológicos
Que como num sonho, vão se esmaecendo...
[carregando consigo a realidade ladeada, sitiada]
Carregando, sustentando em si a margem
À margem do fluxo.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sensation





Par les soirs bleus d'été, j'irai dans les sentiers,
Picoté par les blés, fouler l'herbe menue :
Rêveur, j'en sentirai la fraîcheur à mes pieds.
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.
Je ne parlerai pas, je ne penserai rien,

Mais l'amour infini me montera dans l'âme ;
Et j'irai loin, bien loin, comme un bohémien,
Par la Nature, heureux- comme avec une femme.

Arthur Rimbaud

terça-feira, 11 de agosto de 2009

como alguém que goza de um domingo



Danae - Gustav Klint

A primavera, que virá..

E quando sentires uma brisa de doce aroma
Direis: "É a estação das flores chegando!
É o amor e não demora"
E abro as janelas da alma sem espanto...


E passar a Odisséia humana, vou esperando
Junto a solidão de outros mil, e outrora
Ao vir do sol, saudoso da lua se pega
[em pranto]
Engoiando-me vou, quando quero ir
[me apaixonando]



Direis agora: "Venha logo amor!
Que a vida sem ti, parece sem sentido
Quero flores e um vestido, por
Eu quero meus dias cheios de cor!"

E eu vos direi: "Só no amor que o amor vai chegar!
Ele não demora e vale a pena esperar
Toda essa melancolia, quando ele chagar
Em poesia irá se transformar."
Isabela 09/09/08